A bolacha de motor é um dos alimentos mais consumidos nas embarcações e faz parte da cultura da região amazônica. Foto: Reprodução/Facebook-Bolachamodelo
Quem viaja de barco pelos rios da Amazônia sabe que, quando a fome aperta, um lanche famoso é fácil de encontrar: a “bolacha de motor”. Feita de farinha, água e sal, a bolacha é tradicional na região, presente no café da manhã e nos lanches da tarde das embarcações amazônicas.
A bolacha de motor é a principal opção para “forrar o bucho” de passageiros e tripulantes durante as viagens pelos rios. Quebrada no café com leite, com ova de peixe ou açaí, o alimento se tornou um dos itens indispensáveis nos barcos e também nas mesas das famílias amazônidas.

Antigamente, os barcos regionais eram chamados pelos ribeirinhos de motor. Foto: Adriano Gambarini/WWF Brasil
Mas por que se chama “bolacha de motor”?
O termo “bolacha de motor” surgiu como uma forma carinhosa que os viajantes encontraram para se referir à bolacha água e sal, que ajudava a saciar a fome durante as longas viagens de barco. As embarcações eram regionalmente chamadas de “motor” pelos ribeirinhos.
Segundo relatos nas redes sociais, durante o ciclo da borracha, entre o final do século XIX e o início do século XX, muitos trabalhadores viajavam por dias em barcos a motor para os seringais e precisavam de um alimento que não estragasse durante esses deslocamentos.
A partir dessa necessidade, as bolachas água e sal se tornaram o principal alimento consumido durante os percursos pelos rios, amenizando a fome de tripulantes e passageiros. Daí a origem do nome “bolacha de motor”.

Américo Rodrigues Esteves foi o inventor da bolacha de motor. Foto: Acervo Jornal do Commercio
Quem criou a bolacha de motor?
Américo Rodrigues Esteves foi o responsável por transformar a bolacha água e sal em um dos alimentos mais apreciados da região Norte do país.
Natural de Aveiro, em Portugal, o empresário instalou em Manaus (AM), em 1941, a Fábrica de Massas e Biscoitos Modelo Ltda, com o objetivo inicial de vender produtos alimentícios para toda a região amazônica.
O empreendedor português então criou, à base de trigo, sal, água, fermento, açúcar e gordura hidrogenada, a receita da bolacha que viria a se tornar um dos símbolos da culinária popular amazonense.
“A bolacha de motor foi um produto desenvolvido para nossa região. Ela é do tipo água e sal, mas foi feita justamente para chegar nas regiões mais distantes da Amazônia. Antigamente, havia muita dificuldade de transporte e embalagens de alimentos, então o intuito no início era comercializar o produto no interior do Amazonas”, explica Américo Augusto Esteves, filho do antigo dono e atual proprietário da fábrica, ao Portal Amazônia.
A partir daí, a bolacha de motor acabou se tornando o principal produto da empresa. “Até hoje, a bolacha de motor é feita da mesma forma desde o surgimento da receita, há mais de 60 anos. É uma receita familiar que a gente mantém até hoje, com os mesmos ingredientes. Um biscoito saudável, feito de forma natural, sem conservantes nem aromatizantes, que tende a durar bastante devido à pouca umidade e se conserva, justamente para atingir toda a população do Amazonas e estados da região Norte”, pontua o empresário.

Foto: Divulgação/Instagram-Bolachamodelo
Negócio da família
O sucesso da bolacha de motor se confunde com a história da família Esteves. Desde a instalação da Fábrica Modelo em Manaus, na década de 1940, a empresa se consolidou como uma das mais bem-sucedidas do mercado, mesmo com a chegada das grandes redes de supermercado.
Pioneiro da bolacha de motor, Américo Rodrigues faleceu em 2021, aos 97 anos de idade, mesmo ano em que seu filho, Francisco Augusto, também morreu. Ambos eram sócios da fábrica Modelo, que atualmente é gerenciada pelo seu outro filho, Américo Augusto.

Ao centro, o fundador da bolacha de motor, Américo Rodrigues, ao lado dos filhos Francisco Augusto (à esquerda) e Américo Augusto (à direita). Foto: Américo Augusto/Acervo pessoal
Tal iniciativa levou o criador da empresa a ganhar o Industrial 2004, prêmio dado pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) naquele ano.
“A nossa família, o nosso sustento, a nossa história gira em torno desse produto. A morte do meu pai e do meu irmão foi um momento muito difícil porque eles sempre foram presentes na empresa. Meu pai conhecia todos os funcionários por nome, estava sempre na linha de produção, era uma pessoa muito querida. A história dele está aqui, ele deixou isso conosco e nós vamos manter”, afirmou o empresário.
Fábrica Modelo

Fábrica Modelo foi fundada em 1941, na esquina da Avenida Joaquim Nabuco com José Paranaguá, no Centro de Manaus. Foto: Almanaque Especial Comercial, 1948/Durango Duarte
Com sede na esquina da Avenida Joaquim Nabuco com José Paranaguá, no Centro de Manaus, a Fábrica Modelo foi fundada em 1941 e ainda atua na fabricação de massas e biscoitos.
Em 84 anos de história, a empresa é referência regional na produção de alimentos. Segundo Américo, além da bolacha de motor, outros tipos de biscoitos também são produzidos pela empresa.

Foto: Reprodução/Google Maps (com edição)
“Atualmente, temos em torno de nove itens na nossa linha de produção. Além da bolacha de motor, que produzimos uma base mensal de cem toneladas, continuamos a produzir bolacha água e sal, temos a famosa cream-cracker, bolachas doces de maisena e também as salgadas, do tipo aperitivo”, explica o proprietário da Fábrica Modelo, que conta com quase 40 colaboradores entre funcionários internos e externos.
Sobre massas, Américo explica que o setor voltará ao planejamento da empresa em 2026. “Nós temos uma outra unidade no Japiim que era onde fabricava macarrão, mas temporariamente estamos sem produzir por inviabilidade econômica devido à massa. Mas a gente deve voltar a produzir ano que vem”, adiantou.

Além da bolacha de motor, Fábrica Modelo produz atualmente cerca de nove produtos no setor de biscoitos. Foto: Divulgação/Instagram-Bolacha Modelo
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Com informações do Portal Amazônia.











