O processo de colonização europeia na **Amazônia**, iniciado no século XIX, provocou mudanças profundas no modo de vida dos povos originários e comunidades tradicionais da região. Um dos impactos mais significativos foi o avanço da **urbanização**, influenciada pelos modelos das cidades do “Velho Continente”, que alterou as estruturas sociais e econômicas da Amazônia.
É nesse contexto de reparação histórica que surge o conceito de **Amazônia Urbana**, que visa reconhecer e resgatar as relações humanas existentes entre pequenos grupos antes da chegada dos europeus. O tema foi amplamente discutido durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro.

A professora de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ana Cláudia Duarte, explica que a ideia de aglomeração, trazida pela urbanização europeia, criou uma divisão artificial entre urbano e rural, que não existia entre os povos da Amazônia, que já se relacionavam de forma interligada através de redes comunitárias.
“Sempre houve um nível de urbanização, no sentido de aglomeração, entre as pessoas que viviam na floresta. É o que entendemos hoje como aldeias e vilas, onde as pessoas viviam na floresta e trabalhavam no entorno, pescando, manejando a floresta, e interagindo com outras localidades a poucos quilômetros de distância. Ou seja, já tínhamos uma cidade-floresta, então não faz sentido aplicar os conceitos de urbano e rural a esses assentamentos humanos, que sempre estiveram aglomerados”, explicou a professora, defensora da ‘Amazônia Urbana’.
Desvalorização da Amazônia
A docente reforça que a implantação das cidades pelos europeus também contribuiu para o apagamento dos saberes tradicionais dos povos originários. Segundo Ana, essa ação tinha o objetivo de desvalorizar as práticas, costumes e produtos da Amazônia.
“Durante a colonização, tudo relacionado à Amazônia era visto negativamente. A região era considerada uma ‘página em branco’, com potencial em minérios e hidrelétricas, mas seus habitantes não eram vistos como humanos, nem dignos de reconhecimento. Houve uma grande campanha de desvalorização no século XX, e o conhecimento nativo foi deixado de lado”, pontuou Ana.

Para a professora, o debate sobre a Amazônia urbana é fundamental para eliminar estereótipos e reconhecer que os povos indígenas e comunidades tradicionais já praticavam formas de urbanismo antes da colonização.
“A discussão ambiental sobre a importância da Amazônia para o mundo precisa iluminar esse processo histórico para que possamos corrigir o passado e revalorizar esses grupos que sempre souberam viver em harmonia com a floresta. Precisamos reverter essa situação, pois, infelizmente, esse processo está se intensificando nas cidades. Por exemplo, hoje em dia, muitas pessoas não querem ter um quintal com vegetação ou uma árvore em frente de casa, preferindo cimentar tudo, uma tendência que veio da colonização e se espalhou”, explicou.
Especial COP30
A entrevista com a professora Ana Cláudia Duarte faz parte de uma série especial dedicada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Conferência das Partes (COP30), do programa ‘Bate-papo na CBN’, da rádio CBN Amazônia Belém (102,3 FM).
Com o olhar de quem vive na região, o programa reuniu informações e entrevistas sobre toda a movimentação da 30ª edição do encontro mundial realizado em Belém (PA), entre os dias 10 e 22 de novembro.

Outra convidada do programa foi Marcela Vecchione Gonçalves, professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Amazonas (UFPA), que comentou sobre os impactos dos debates sobre as mudanças climáticas da conferência para os povos originários da Amazônia.
Para a convidada, as discussões acerca dos debates climáticos da COP30 já representam um grande avanço para a implementação de soluções diante da crise climática.

“Essas decisões já impactam nossas vidas, principalmente para os mais vulneráveis, pois observamos uma conexão forte e planejada para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável da agenda 2030 da ONU”, explicou Marcela.
Com oito episódios, os programas da rádio, apresentados pela jornalista Brenda Freitas, também ganharam versões especiais no canal Amazon Sat e no Portal Amazônia.
Você pode assistir as entrevistas completas das especialistas no oitavo episódio da edição especial do programa:
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Banzeiro da Esperança
A iniciativa Banzeiro da Esperança é uma parceria entre Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Fundação Rede Amazônica (FRAM) e Virada Sustentável, com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA). Esta edição do Banzeiro da Esperança é uma jornada de conexão, troca de saberes e transformação com foco na COP30.
Com informações do Portal Amazônia.











