Para quem mora na Amazônia, o banho de cheiro é um costume conhecido: uma mistura de folhas, ervas e perfumes naturais usada para renovar as energias, afastar o negativo e atrair coisas boas. Essa tradição, presente em toda a região amazônica, é vista como uma forma de purificar o corpo e a alma.
Mas o que exatamente é o banho de cheiro? Qual a sua origem? O Portal Amazônia conversou com Glacy Ane Araújo de Souza, doutora em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), para explicar tudo sobre essa prática.
O que é banho de cheiro?
Segundo Glacy, o banho de cheiro é um ritual cultural, espiritual e medicinal com séculos de história, feito com ervas, flores e perfumes naturais da Amazônia. O objetivo é promover a pureza, o cuidado e a conexão espiritual.
“É a manipulação de ervas aromáticas da região, às vezes com essências, buscando o equilíbrio espiritual e energético. É uma prática popular comum em terreiros de religiões de matriz africana e no interior da Amazônia, usada para proteção ou para invocar espíritos”, explica a antropóloga.
Origem
A doutora explica que o banho de cheiro surgiu na Amazônia, especialmente no Pará, com raízes no conhecimento dos povos originários, de origem africana e nas influências portuguesas.
“Os povos originários e africanos sempre praticaram banhos de cheiro em seus rituais religiosos. No Pará e em outros estados da Amazônia, essa tradição se uniu ao conhecimento dos portugueses nos séculos XVIII e XIX, com a adição de novas ervas. Assim, o banho de cheiro se tornou uma prática local de proteção e equilíbrio”, conta Glacy.
No Mercado Ver-o-Peso, em Belém, as erveiras oferecem dezenas de opções com nomes curiosos como “Chama Dinheiro”, “Amansa Corno”, “Afasta Chifre” e “Pega Rapariga”.
Como se prepara o banho de cheiro?
A preparação começa com a seleção das ervas. As erveiras, mulheres com profundo conhecimento das plantas medicinais da Amazônia, fazem a maceração, deixando os ingredientes de molho em água ou líquido aromático para liberar seus aromas.
“Antes de preparar o banho, a erveira se prepara espiritualmente, evitando álcool e cigarro. Ela seleciona as ervas aromáticas, macera as folhas em água limpa e, em alguns casos, as ferve. Depois, coa o banho e armazena em potes de barro”, explica Glacy.
Tipos de ervas
As ervas são escolhidas de acordo com a necessidade: atrair prosperidade, afastar energias negativas, proteger espiritualmente, entre outros.
“O banho de cheiro tem variações na Amazônia e atende a diferentes situações, como amarração de casais, lavagem da cabeça para preparação espiritual ou banhos atrativos e de proteção. Para cada situação, são usadas ervas específicas”, salienta a antropóloga.
Algumas das principais ervas indicadas são:
Simbologia
O banho de cheiro é uma tradição forte no Norte do Brasil, especialmente em Belém, durante o Círio de Nazaré e as festas juninas.
Nas religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, os banhos conectam com os orixás e purificam a espiritualidade. Entre os povos indígenas, as ervas ligam ao mundo natural, seus deuses e fenômenos.
“De modo geral, o banho de cheiro carrega a ancestralidade dos povos da Amazônia, produzindo uma conexão espiritual com a Natureza. Reflete a energia ancestral passada de geração em geração e a sabedoria dos mais velhos”, finaliza Glacy, que desde 2001 trabalha com temas de afrorreligiosidades, magia e comunidades tradicionais.
Com informações do Portal Amazônia











