18 de outubro de 2024

Araticum, baru e taturubá: pesquisas desvendam as riquezas dos frutos amazônicos e do cerrado

Universidade Federal do Tocantins explora os segredos de compostos bioativos desses frutos, impulsionando avanços em biotecnologia e bioprospecção.

O Brasil, detentor da maior biodiversidade do planeta, é um verdadeiro tesouro natural, abrigando seis biomas e três ecossistemas marinhos. Com mais de 100 mil espécies de animais e 40 mil de vegetais catalogados, essa riqueza é alimentada, em grande parte, pela majestosa Amazônia, representando 60% da maior floresta tropical do mundo.

Outro bioma fundamental para essa riqueza é o Cerrado, o segundo maior da América do Sul, que se estende por 12 estados brasileiros. Aqui, encontramos uma variedade impressionante de frutos com sabores distintos, aromas cativantes e, o mais importante, elevado valor nutricional e propriedades antioxidantes.

Na Universidade Federal do Tocantins (UFT), pesquisadores há anos mergulham nos segredos desses biomas – a Amazônia e o Cerrado – estudando suas riquezas e particularidades.

No Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da UFT, a Professora Dra. Glêndara Aparecida de Souza Martins é uma das mentes por trás dessas pesquisas. Seu foco está nos compostos bioativos extraídos de frutos nativos da Amazônia e do Cerrado, com o objetivo de criar novos produtos, explorar biotecnologia e, especialmente, desbravar as oportunidades da bioprospecção.

“Minha paixão pela bioprospecção nasceu em 2014, quando comecei a desvendar o potencial da flora nativa da região. Além disso, a nível nacional e internacional, a Amazônia sempre esteve em destaque por sua biodiversidade única”, comenta entusiasmada a pesquisadora.

Bioprospecção: a chave para o futuro

Mas afinal, o que é bioprospecção? Esta técnica consiste em explorar fontes naturais de pequenas moléculas, macromoléculas e informações bioquímicas e genéticas que podem ser transformadas em novos produtos.

A bioprospecção usa esses compostos orgânicos para criar produtos de valor comercial, principalmente nas áreas farmacêutica, agrícola, cosmética e química. Essa prática remonta aos primórdios da civilização, envolvendo técnicas como cultivo e domesticação de espécies selvagens.

“Essa etapa é crucial para entender a biodiversidade, já que muitos desses frutos contêm compostos tradicionalmente usados por comunidades locais no tratamento de doenças”, afirma Glêndara.

Foto: Divulgação/UFT

Sabor, aroma e saúde antioxidante

Os frutos nativos são alvos constantes de estudos devido à sua importância cultural, valor nutricional e potencial farmacológico. No entanto, o destaque vai para sua capacidade antioxidante, que pode ajudar a combater os radicais livres associados a doenças degenerativas no corpo humano.

“As pesquisas nos apontam quais compostos e quantidades, quando ingeridos, trazem benefícios à saúde. Estes estudos nos guiam na busca por aplicações potenciais dos compostos extraídos dos frutos, independentemente da sazonalidade”, explica a cientista.

Explorando o potencial do araticum

O araticum, também conhecido como marolo, é um fruto de forma circular e casca rígida que, quando maduro, exibe tons amarelados ou rosados. Esta fruta exótica possui alto potencial nutricional e tecnológico, podendo ser transformada em doces, geleias, sucos, licores, tortas, iogurtes e sorvetes.

“Ao desenvolvermos a geleia de araticum, nossa intenção foi agregar valor a uma matéria-prima já comercializada na região a baixo custo. Isso resultou em uma combinação única de qualidade nutricional e autenticidade regional”, enfatiza a pesquisadora.

No entanto, a frutificação do araticum ocorre apenas entre setembro e janeiro, o que representa um desafio de sazonalidade nas pesquisas.

“O principal obstáculo em trabalhar com esses frutos é a sazonalidade e a proporção de polpa e semente, que demandam técnicas de aproveitamento integral do fruto com segurança”, detalha Glêndara.

A produção da geleia de araticum não apenas permite o consumo ao longo do ano, mas também contribui para a geração de renda de pequenos agricultores que cultivam essas frutas. Além disso, do ponto de vista científico, essas pesquisas podem proporcionar novos insights sobre essa fruta nativa do cerrado, ainda pouco explorada.

Um dos resultados notáveis do trabalho de Glêndara foi o desenvolvimento de geleia de araticum com substituição da pectina comercial pela do maracujá, uma geleificante e estabilizante que pode ser extraída da casca do maracujá amarelo.

Foto: Divulgação/UFT

Valorizando o óleo de amêndoa de baru

Outro campo de pesquisa da cientista está relacionado ao baru, cujo óleo de amêndoa é amplamente utilizado na indústria de cosméticos. No entanto, frequentemente, torna-se impróprio para consumo devido aos métodos de extração que envolvem substâncias químicas.

Portanto, Glêndara buscou técnicas sustentáveis para a extração do óleo, a fim de expandir seu uso na indústria alimentícia.

“Conseguimos propor ajustes em alguns métodos para aplicá-los às sementes e aproveitar todas as suas propriedades benéficas, não apenas para cosméticos, mas também para alimentação”, esclarece.

A castanha de baru, rica em proteínas, lipídios, fibras, compostos bioativos e potencial antioxidante, é uma semente comestível proveniente do baruzeiro, uma árvore nativa do Cerrado ameaçada de extinção.

“Cada pesquisa tem suas particularidades, mas é gratificante encontrar um produto in natura vendido a baixo custo e dar a ele um valor agregado”, destaca a pesquisadora.

Foto: Divulgação/UFT

Desvendando o taturubá, um fruto pouco conhecido

Com pouca literatura disponível, a mestranda do PPGCTA, Gabriela Leal, se dedica à bioprospecção do taturubá, um fruto nativo da Amazônia.

“Estou estudando os compostos nutricionais, os benefícios à saúde, a composição e aplicando métodos ecológicos e solventes verdes na extração desses compostos”, explica Gabriela.

De cor amarela vibrante e uma semente brilhante, Gabriela não conhecia o taturubá antes de ingressar na pós-graduação da UFT. Ela enfatiza a importância de buscar conhecimento tanto na sabedoria popular quanto na ciência antes de estudar um fruto desconhecido.

No final do projeto, Gabriela espera encapsular os compostos coletados, tornando-os disponíveis tanto para a indústria de alimentos, que pode usá-los em novas formulações, quanto para a indústria farmacêutica.

Bioativos: Pesquisa e Inovação

Além de Gabriela, a Professora e Pesquisadora Glêndara Martins, junto com os alunos do PPGCTA, investiga os frutos oiti e puçá, analisando suas composições químicas e extraindo bioativos.

“Para a extensão tecnológica da Universidade, essa tecnologia social é fundamental e representa um dos papéis da instituição. É igualmente emocionante quando começamos a fazer novas descobertas que podem impactar positivamente nossa sociedade”, conclui Glêndara.