Uma parceria entre ciência e conhecimento tradicional está abrindo caminho para novas soluções de saúde pública na Amazônia. Uma pesquisa do Museu Goeldi aponta para o uso da Montrichardia linifera, popularmente conhecida como ‘aninga’, na produção de velas repelentes e xampus inseticidas.
O estudo, que ganhou destaque no painel “Bioeconomia amazônica potencializada pela ciência” da Rede Bioamazônia, demonstra que o princípio ativo da planta tem propriedades repelentes de mosquitos. A descoberta surgiu da observação de ribeirinhos, que notaram a menor concentração de mosquitos em áreas onde a aninga crescia.
“O ponto de partida foi o conhecimento tradicional dos ribeirinhos sobre o poder da planta. Eles já sabiam que onde a aninga existia, não havia tantos mosquitos. Nossa pesquisadora, Cristine Bastos do Amarante, investigou a fundo essa propriedade e estamos agora buscando a patente da substância”, explica Amílcar Mendes, coordenador do Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (NIT/MPEG).
A aninga é uma planta aquática nativa da Amazônia, de fácil acesso e cujo manejo não representa grandes impactos ambientais. Além disso, a produção de repelentes e inseticidas à base da planta pode gerar renda para as comunidades tradicionais que detêm o conhecimento sobre seu uso.
“Estamos falando de um produto com o prestígio da Amazônia, livre de componentes químicos sintéticos, o que é um diferencial importante em relação aos repelentes tradicionais”, ressalta Amílcar.
Empresas já demonstraram interesse na tecnologia do xampu inseticida, buscando a segurança jurídica da patente. Para a vela repelente, a perspectiva é de estabelecer cadeias produtivas nas comunidades locais, garantindo o acesso fácil à matéria-prima, a rastreabilidade dos produtos e o pagamento justo aos ribeirinhos.
Luz Marina Mantilla Cárdenas, diretora do Instituto Sinchi (Colômbia) e presidenta da Rede Bioamazônia, destaca a importância da união entre saberes tradicionais e avanços científicos para o desenvolvimento de soluções inovadoras para a região.
A malária é um dos principais problemas de saúde pública na Amazônia, o que torna a descoberta de um bioativo com potencial inseticida ainda mais relevante para a população local.











