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20 de novembro de 2025

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Alimentação industrializada preocupa saúde em comunidades da Amazônia

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Comunidades ribeirinhas da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, estão trocando a comida tradicional por produtos industrializados, o que pode aumentar o risco de doenças e diminuir a qualidade de vida. A constatação é de uma pesquisa premiada do Instituto de Biociências (IB) da USP.

A bioantropóloga Mariana Inglez, autora do estudo, analisou esse fenômeno como um processo de “nutricídio” – termo que descreve a perda nutricional causada pela dificuldade de acesso a uma alimentação saudável, afetando a saúde e a cultura alimentar das populações.

Entre 2019 e 2023, Mariana acompanhou de perto o dia a dia dessas comunidades. Os dados mostram que, em apenas duas décadas, o consumo de alimentos industrializados cresceu bastante: a participação de carboidratos de produtos comprados saltou de 14% para 33%, a de proteínas, de 13% para 33%, e a de gorduras, de 21% para 71%. Essa mudança reflete a substituição da dieta tradicional, rica em ingredientes locais, por produtos processados, cheios de energia, mas pobres em nutrientes.

“Quando falo em transição nutricional, estou falando da substituição de alimentos que fazem parte da identidade de um povo, que têm uma relação com o ambiente e com aspectos culturais e afetivos. Geralmente, esses alimentos são muito mais saudáveis”, explica Mariana em entrevista ao Jornal da USP.

A dieta, antes baseada em farinha, peixe e frutas da região, está sendo substituída por arroz branco, açúcar, óleo vegetal, refrigerantes e macarrão instantâneo. Uma moradora de Caxiuanã, que preferiu não se identificar para preservar sua privacidade, relata: “Antes a gente consumia basicamente alimentos naturais, como o peixe que pescávamos, a farinha que produzíamos aqui mesmo. Hoje em dia, a alimentação industrializada está mais presente.”

A pesquisa também observou que as mulheres são as mais afetadas por essa mudança, apresentando maior risco de desenvolver doenças crônicas como hipertensão, obesidade e diabetes. Isso acontece porque, muitas vezes, elas priorizam a alimentação dos parceiros e dos filhos, deixando para si as opções menos nutritivas.

O estudo aponta que, embora programas sociais tenham ajudado a combater a fome, a insegurança alimentar – a falta de acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade adequadas – aumentou. A pandemia de Covid-19 agravou a situação, interrompendo as cadeias de abastecimento e as fontes de renda das comunidades.

Outro fator importante é a inadequação das políticas públicas de alimentação. Cestas básicas e a merenda escolar, por exemplo, muitas vezes contêm muitos alimentos ultraprocessados, que não condizem com a cultura alimentar ribeirinha e com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira.

As mudanças climáticas também contribuem para o problema, com a diminuição das chuvas e o aumento da temperatura afetando a produção agrícola e a disponibilidade de peixes nos rios. “Hoje em dia o feijão que vem é industrializado, mas antes a gente comia o feijão que plantávamos”, conta a moradora de Caxiuanã.

Apesar dos desafios, a pesquisa mostra que, quando têm a opção, a população ribeirinha ainda prefere se alimentar de forma tradicional. “Existe uma percepção local do que é uma comida de verdade que faz bem para a saúde, e não é comida ultraprocessada. Então, quando existe a possibilidade de escolher, vão comer um peixe cozido com farinha”, afirma Mariana.

*Conteúdo originalmente publicado pelo Jornal da USP.