Uma alternativa natural e acessível pode ajudar a proteger o pirarucu, peixe símbolo da Amazônia, de doenças. Pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) descobriram que cápsulas de alho (Allium sativum) vendidas em farmácias são eficazes no combate a parasitas que atacam os alevinos da espécie.
A pesquisa, publicada na revista científica Veterinary Parasitology, mostrou que as cápsulas de alho conseguem reduzir significativamente a presença de dois parasitas comuns: os protozoários tricodinídeos e o verme das brânquias Dawestrema cycloancistrium. Esses parasitas podem causar mortes em larga escala nos criadouros, prejudicando a produção e o bem-estar dos animais.
A descoberta pode diminuir a dependência de produtos químicos no setor e complementar o uso do sal de cozinha, já utilizado no tratamento de alevinos. O estudo foi coordenado pela pesquisadora Patricia Oliveira Maciel Honda, da Embrapa, em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), com financiamento do Sebrae.
Os tricodinídeos são protozoários unicelulares, e os monogeneas, vermes das brânquias. Ambos se alojam nas brânquias e no corpo dos alevinos, podendo levar à morte de cardumes inteiros.
Os pesquisadores testaram diferentes concentrações de alho – 2,5 mg, 5 mg, 7,5mg e 10 mg por litro de água – expondo os peixes a banhos por 4 dias. A pesquisa revelou que doses menores de alho já reduzem a presença de parasitas em até 42,9%, sem causar toxicidade aos peixes. No combate aos tricodinídeos, a eficácia chegou a 77% com uma dosagem de 5mg/L.
Como foi feito o teste? As cápsulas de alho de farmácia, de 500mg ou 1000mg, foram diluídas em água para atingir as concentrações testadas. Os peixes infectados foram mantidos em aquários com a solução por 96 horas. Após esse período, foram coletadas amostras de sangue e muco para verificar a presença de protozoários mortos e vermes nas brânquias.
“Não observamos mortalidade ou alterações comportamentais nos alevinos durante o experimento”, explica a pesquisadora Patricia Maciel. “Os resultados indicam que o alho pode ser uma alternativa natural promissora para o manejo de parasitas na piscicultura, especialmente na concentração de 5,0 mg/L por quatro dias.”
O momento ideal para o tratamento é durante o treinamento alimentar dos pirarucus, quando os alevinos são colocados em caixas d’água para aprender a comer ração. É importante observar se os peixes apresentam sinais de doença, como falta de apetite, coceira, apatia ou palidez nas brânquias. Nesses casos, o descarte dos animais afetados e o tratamento do restante do lote são recomendados.
Outros estudos da Embrapa já comprovaram a eficácia do sal de cozinha no controle de parasitas do pirarucu. A pesquisa com óleos essenciais de plantas amazônicas também demonstra o potencial de alternativas naturais para a saúde dos peixes cultivados na região.
*Conteúdo originalmente publicado pela Embrapa.