
Mateus Barbosa, de 19 anos, diz que leu mais de 100 textos nota mil na preparação. Pontuação máxima foi alcançada por apenas 28 candidatos no país, nenhum no Amapá. Agricultor do Amapá que tirou 980 na redação do Enem dá dicas para bom desempenho na prova
Enfrentando dificuldades de acesso à internet e a crise de energia elétrica no Amapá, o agricultor Mateus Barbosa, de 19 anos, concilou a enxada e os livros, leu mais de 100 textos nota mil e atingiu 980 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020.
A nota máxima da redação do Enem, mil pontos, foi alcançada somente por 28 pessoas, nenhuma delas no estado do Amapá.
Morador da comunidade de Cruzeiro, na Zona Rural do município de Amapá, distante 306 quilômetros de Macapá, o jovem contou que na preparação para o exame priorizou a prática da redação pelo menos 3 vezes por semana.
“Na minha cabeça a redação sempre puxava a gente para o curso que a gente quisesse. Passei horas e horas estudando. Às vezes começava a estudar das 21h e ia até às 6h. Foi muito cansativo, mas consegui chegar onde eu queria”, disse.
Mateus Barbosa no local onde estudou para o Enem
Arquivo Pessoal
Segundo Mateus, a leitura diária é fundamental a quem deseja ter um bom desempenho na redação do Enem. Por isso, além de ler mais de 100 redações nota mil, Barbosa também procurou por textos tiveram avaliação superior a 900.
“A dica eu eu dou é que todos têm que ler. Ler é a saída para a gente tirar uma boa nota na redação. Eu li mais de 100 redações nota mil e li mais de 100 redações 980. Isso fez com que eu focasse somente na nota mil”.
Mateus relatou que não esperava alcançar a nota de 980, devido a falta estrutura para os estudos. Entre os desafios, o agricultor conciliou o aprendizado com o acesso à internet ruim na região e o apagão que ocorreu no Amapá por mais de 20 dias no mês de novembro.
“Nunca pensei que seria possível tirar uma nota de 980, porque para outros estados os alunos estudam por cursinho e onde eu moro não tem. Eu estudei somente por vídeo no Youtube e peguei as provas antigas do Enem, focando nas competências da redação. A internet aqui onde moro também é muito ruim. Ainda teve o apagão, mas mesmo com a falta de energia não deixei de estudar, rever redações, o que dava para fazer”, contou.
O estudante fez a versão impressa do Enem, na primeira aplicação, que teve como tema da redação “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.
Ele disse que gostou da temática e fez no texto referências à Constituição brasileira, ao filósofo John Locke e a escritora Martha Medeiros.
“A minha intervenção foi que o Poder Executivo realizasse campanha nacional de combate às doenças mentais com o fim de amenizar as graves consequências decorrente da situação que o tema estava propondo, que promovesse palestras, oficinas e debates nas escolas”.
Mateus Barbosa durante momento de estudo
Arquivo Pessoal
Mesmo com o bom resultado, o jovem não conseguiu aprovação no curso que almejava, por conta da não adesão das instituições de ensino superior do estado ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
“O curso que eu sonho é medicina veterinária, no município de Porto Grande. Só que esse ano não teve Sisu, e eu fiquei muito triste. Vou ter que estudar mais esse ano, para fazer o Enem de novo para tentar cursar o que eu quero”, lamentou.
Enquanto não alcança a sonhada aprovação, o agricultor continuará os estudos, já que é acadêmico no curso de engenharia agronômica da Universidade Estadual do Amapá (Ueap) e de Letras-Inglês numa instituição particular.
Veja o plantão de últimas notícias do G1 Amapá
ASSISTA abaixo o que foi destaque no AP:











