O Acre tem se tornado um importante ponto de busca por atendimento médico para moradores de cidades do Amazonas, especialmente aquelas mais próximas da fronteira. O caso recente de Isadora, uma bebê de sete meses diagnosticada com uma doença cardíaca grave, que precisou ser transferida de Pauini (AM) para Rio Branco (AC) para ter acesso a uma cirurgia urgente, reacendeu a discussão sobre o fluxo de pacientes no sistema de saúde acreano.
A família de Isadora, que mora a mais de 267 km de Rio Branco, optou pela capital acreana porque o acesso a Manaus é mais complicado, dependendo de avião ou barco. A pequena Isadora segue internada em Manaus, aguardando a cirurgia, que pode ser adiada devido a uma infecção.
Segundo dados da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), de janeiro a outubro deste ano, quase 50 pacientes de cidades do Amazonas foram atendidos no estado. A coordenadora estadual do Samu, Necila Fernandes, explica que o número real pode ser ainda maior, já que muitos pacientes viajam por conta própria, buscando tratamento em casas de apoio e unidades de saúde na capital acreana.
A proximidade geográfica é um fator crucial. Pauini, por exemplo, está a cerca de 270 km de Rio Branco por estrada, enquanto a viagem para Manaus é muito mais difícil e demorada. Isso leva muitas famílias a buscarem atendimento no Acre, especialmente em cidades como Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Rio Branco, onde a estrutura hospitalar é mais completa.
Casos como o de uma gestante de Pauini, que teve um bebê natimorto em Rio Branco, também ganharam repercussão nacional e levantaram questionamentos sobre a logística de atendimento e a responsabilidade de cada estado nessas situações. A Sesacre afirma que a questão já foi levada para discussões em âmbito nacional, como no Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).
Além dos pacientes do Amazonas, o Acre também recebe pessoas da Bolívia e do Peru, especialmente em municípios de fronteira como Epitaciolândia, Brasiléia e Assis Brasil. A coordenadora do Samu ressalta a necessidade de mecanismos específicos para regiões de fronteira, considerando o fluxo de pacientes entre estados e países.
A Sesacre reforça que não fechará as portas para ninguém, mas defende que esse fluxo precisa ser organizado para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde local. Enquanto isso, o Acre segue desempenhando um papel importante na assistência médica para moradores do interior do Amazonas, de Rondônia e de países vizinhos, em um sistema que depende da cooperação entre os estados.
*Por Renato Menezes, da Rede Amazônica AC*











