A inteligência artificial (IA) está remodelando o mercado de trabalho em uma velocidade inédita e o Brasil já sente esse impacto. Uma pesquisa da Gupy mostra que a procura por profissionais com conhecimentos em IA cresceu 306% em um ano.
Globalmente, segundo o Fórum Econômico Mundial (FEM), 170 milhões de novas vagas surgirão até 2025, enquanto outras 92 milhões devem ser extintas devido à automação, resultando em um saldo positivo, mas com perfis de competências totalmente diferentes dos que temos hoje.
No Brasil, setores como finanças, agronegócio, saúde e varejo já utilizam algoritmos para análise preditiva, atendimento inteligente e automação de processos. Bancos como o Itaú criaram hubs internos de IA para desenvolver soluções próprias, enquanto o Magazine Luiza investe em assistentes virtuais e automatização de logística. Isso exige profissionais aptos a trabalhar lado a lado com a tecnologia — em funções que, muitas vezes, ainda nem existem.
Segundo a Dell Technologies, 85% dos empregos de 2030 ainda não foram criados. Isso representa um enorme desafio para profissionais e para os departamentos de Recursos Humanos: como preparar pessoas para funções que sequer foram definidas?
Profissões em transformação: o que já está acontecendo
A automação não reduz apenas custos, ela redefine a forma de trabalhar. No Brasil, os impactos são claros. Na área da saúde, por exemplo, os hospitais adotam IA para diagnóstico e predição de riscos, abrindo espaço para funções como especialistas em interoperabilidade de dados clínicos.
No agronegócio, os drones monitoram lavouras, exigindo pilotos e analistas de dados geoespaciais e na indústria, as fábricas estão cada vez mais inteligentes e dependem de engenheiros de automação com visão em ciência de dados.
Um exemplo emblemático é o surgimento dos pilotos de drone. Inicialmente um hobby, rapidamente se transformou em uma profissão formal com cursos e certificações, agora essencial em agronegócio, inspeções industriais e logística. Essa mesma dinâmica se repetirá com as carreiras impulsionadas pela IA.
Quais habilidades serão indispensáveis?
Mesmo com tecnologias cada vez mais poderosas, competências humanas continuarão sendo o diferencial. Criatividade, pensamento crítico, inteligência emocional, liderança e empatia são difíceis de substituir por algoritmos.
No Brasil, um levantamento do LinkedIn indica que as vagas que mais cresceram em 2024 pediam habilidades como adaptação a mudanças (+21%) e comunicação interpessoal (+18%). Além disso, cresce a demanda por conhecimento técnico aliado ao autoconhecimento, ou seja, profissionais capazes de identificar seus pontos fortes, alinhar carreira à sua personalidade e adotar estratégias de desenvolvimento contínuo.
Esse equilíbrio se reflete nas chamadas smart skills, competências comportamentais e emocionais que complementam as técnicas. Entre as mais relevantes estão:
- Adaptabilidade: lidar bem com mudanças aceleradas.
- Comunicação eficaz: traduzir ideias complexas de forma clara e colaborativa.
- Gestão do estresse: manter a saúde mental e a produtividade em ambientes dinâmicos.
- Capacidade analítica: interpretar dados e tomar decisões com base em evidências.
Aprendizado contínuo é a nova regra
Se antes bastava uma graduação e uma especialização ao longo da carreira, agora a palavra-chave é “lifelong learning”. Com a evolução acelerada da tecnologia, os profissionais precisarão se reciclar constantemente.
Plataformas online oferecem trilhas de aprendizagem em IA, ciência de dados, automação de processos e cibersegurança. No Brasil, Sebrae e Senai já oferecem cursos gratuitos de capacitação em IA e transformação digital.
Para líderes de RH, isso significa que os programas de desenvolvimento precisam mudar: além de treinamentos técnicos, é fundamental oferecer experiências voltadas a competências humanas, gestão de mudanças e inovação.
Oito profissões emergentes impulsionadas pela IA
1) Engenheiro de personalidade de IA
Cria e ajusta a personalidade de assistentes virtuais e chatbots para interações mais naturais e humanizadas. Esse profissional combina habilidades de design de conversação, psicologia e linguística para tornar os sistemas mais intuitivos e engajadores.
2) Gerente de ética em Inteligência Artificial
Garante que sistemas de IA sigam princípios éticos, evitando vieses e impactos negativos para a sociedade. Essa função envolve a definição de diretrizes para o desenvolvimento e implementação de IA responsável.
3) Curador de experiência de metaverso
Especialista na criação e personalização de ambientes imersivos para empresas, educação e entretenimento dentro do metaverso. Esse profissional ajudará a projetar mundos virtuais envolventes e interativos.
4) Auditor de algoritmos
Revisa e avalia algoritmos para garantir que sejam transparentes, livres de vieses e erros. Profissionais dessa área trabalharão para aprimorar a confiabilidade e a justiça dos sistemas automatizados.
5) Especialista em descontinuação de IA
Supervisiona a transição segura e ética na desativação de sistemas de IA que não são mais necessários ou apresentam riscos. Esse profissional será essencial para evitar impactos negativos na sociedade e nas operações empresariais.
6) Treinador de Inteligência Artificial
Ensina modelos de IA a interpretar comandos com maior precisão e contexto. Trabalha diretamente com cientistas de dados e engenheiros de machine learning para melhorar a eficiência dos modelos de IA.
7) Designer de interação Homem-Máquina
Otimiza a interface entre humanos e máquinas para garantir experiências intuitivas e eficientes. Essa profissão envolve o desenvolvimento de UX/UI para dispositivos de IA e tecnologias assistivas.
8) Consultor de produtividade assistida por IA
Ajuda empresas a integrar IA para aumentar a eficiência sem comprometer a criatividade e a tomada de decisões humanas. Esse profissional treina equipes para maximizar o uso de IA no dia a dia corporativo.
O que líderes de RH podem fazer agora
Para preparar as equipes para esse futuro dinâmico, é recomendado que os líderes de RH comecem mapeando as competências críticas, identificando quais funções podem ser automatizadas e quais exigirão novas habilidades.
Também é fundamental promover programas de requalificação, com foco em upskilling e reskilling, especialmente nas áreas digitais. Outro ponto essencial é reforçar a cultura de inovação, incentivando os times a experimentar novas ferramentas e processos, além de apoiar a saúde emocional dos colaboradores por meio de suporte psicológico e programas de bem-estar. Por fim, estabelecer parcerias com instituições de ensino pode ampliar a oferta de treinamentos alinhados às demandas futuras.
A inteligência artificial deve ser vista como uma parceira estratégica e não como ameaça. Profissionais dispostos a aprender continuamente, desenvolver habilidades socioemocionais e dominar novas tecnologias terão uma vantagem significativa.
O futuro do trabalho pertence a quem consegue evoluir com as mudanças — e a transformação já está acontecendo. A pergunta não é se a sua carreira vai mudar, mas como você vai se preparar para ela.
Antonio Muniz é uma das vozes influentes do ecossistema de tecnologia e negócios no Brasil. CEO Advisor e presidente da Editora Brasport, Muniz atua oferecendo consultoria estratégica com foco em inovação e impacto. Ele também preside comitês de tecnologia em duas academias relevantes do setor, onde promove conexões profissionais e estimula o desenvolvimento técnico por meio do networking qualificado. À frente da Jornada Colaborativa, movimento que reúne especialistas em torno da produção de conteúdo acessível e colaborativo, Muniz se consolidou como referência nacional em temas como Agilidade, DevOps, Lean, Qualidade de Software (QA), OKR e Transformação Digital. Autor, editor e professor de MBA Executivo em Agilidade, Tecnologia e Negócios na Anhanguera Educacional, ele também é presença frequente em eventos, como palestrante e mentor. Sua trajetória é marcada pela capacidade de unir pessoas, ideias e propósitos, sempre com o objetivo de gerar valor coletivo e acelerar o avanço do setor. Para mais informações, acesse: LinkedIn.