19 de abril de 2024

Lava Jato, em nova temporada

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Lava Jato, em nova temporada

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O juiz Sérgio Moro, praticamente sinônimo da Operação Lava Jato, aceitou o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e vai assumir o Ministério da Justiça (MJ). Bom pra ele. Bom para o Brasil. Estivesse desde o início da operação, em 2014, guarnecido por um ministro da Justiça engajado no combate ao crime organizado (enquadramos aqui a corrupção na política), o trabalho de Moro teria rendido muito mais.

 

Exatamente por isso é que fica difícil imaginar que a entrada de Moro no MJ possa trazer algum aspecto negativo… para quem não esteja ligado ao crime organizado. É claro que assim que o assunto entrou em pauta e Moro anunciou que iria ao Rio de Janeiro nessa quinta-feira conversar com Bolsonaro, as críticas surgiram afiadas, vindas de todos os lados. Mas a verdade é: por que o reconhecimento do trabalho do juiz da Lava Jato pelo presidente eleito poderia ser tão negativo?

 

O importante é que não sejamos ingênuos. O ingresso no centro do Poder do país não ocorre – nunca, e para ninguém – sem prejuízos. Ainda mais quando a essa pessoa está associada não apenas a imagem, mas ações de combate à plutocracia que vem governando o país há décadas. Exatamente por isso que associar crime organizado e corrupção não é errado. Ninguém rouba bilhões de dólares de várias empresas públicas como foi feito sem um impecável nível de organização, sem a associação para o crime.

 

Logo, não dá para negar que a presença de Moro no Ministério da Justiça e de Bolsonaro no Palácio do Planalto representa uma séria ameaça às máfias que vêm se alternando no poder nas mais variadas esferas de governo no país.

 

É claro que desde o início da Lava Jato existe a vertente narrativa de que os esforços empreendidos pela Polícia Federal, MPF e juízes de primeira instância sejam oriundos de uma outra máfia – grosso, modo, a “Direita”. É verdade? Pode ser. Mas isso não justificaria a defesa da máfia da “Esquerda” e sua manutenção no poder.

 

A bem da verdade, temos visto ao longo desses anos que não há um lado que tenha passado incólume por esse tsunami de operações policiais contra agentes corruptores e corruptos. Há presos das mais variadas siglas, mas de fato percebemos que alguns desses personagens parecem ter mais ou menos complacência da cúpula do Judiciário. Lula está preso, Aécio, não. Cabral está preso, Gleisi foi inocentada… e aí vai.

 

Por essas e outras que a ascensão de Moro ao Ministério da Justiça (remodelado e anabolizado) não pode ser visto de forma isolada. O quadro geral precisa ser levado em conta. Não podemos esquecer que dezenas de políticos denunciados na Lava Jato e em outras operações perderão o foro privilegiado em 2019. Até o próprio Michel Temer está caminhando na prancha, doido para que inventem, até o reveillon, um meio de voltar no tempo. Uma avalanche de prisões, processos, delações estão para aparecer em um futuro nada distante.

 

Encontrar e comprovar ligações dessa teia de corrupção com o crime organizado, o narcotráfico, o roubo de cargas, o contrabando de armas, de diamantes e de pessoas é mais que uma questão de honra para homens e mulheres que estão trabalhando para abalar a infraestrutura de impunidade no país.

 

A entrada de Moro no Ministério da Justiça é, para fazer uma comparação digna dos tempos atuais, o início da nova temporada dessa série que o Brasil e o mundo vêm assistindo pela TV e internet nos últimos anos. O caminho mais natural e lógico para qualquer roteirista.

Só não vale spoiler.